quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Depoimento de Ana Carolina.




Minha história com a gastroplastia está integralmente relacionada à história de duas outras mulheres: minha mãe e minha irmã.
Minha mãe era diabética, hipertensa, renal crônica (fazia diálise peritonial diariamente), cardíaca (com duas pontes de safena), obesa e fumante. Morreu aos 64 anos vítima das tão famosas COMORBIDADES de que tanto ouvimos falar quando procuramos saber o que é a gastroplastia: os problemas circulatórios nas pernas em função da associação diabetes x doença renal crônica x cigarro fizeram com que ela perdesse as pernas aos poucos em um período de 5 meses, até que uma infecção generalizada, mesmo após a amputação das duas pernas, levou a falência dos seus órgãos.
Na ocasião da morte da minha mãe, em 2001, eu pesava cerca de 150 quilos, era fumante, mas não tinha ainda nenhuma comorbidade. Eu já havia entrado em contato com a cirurgia em 2000 quando, passeando na casa de amigos em São Paulo, acompanhei uma amiga a uma consulta na clínica do Dr Garrido. Voltei animada com essa possibilidade. Mas naquela época a cirurgia ainda não era uma moda e o médico me achou saudável, vaidosa e bem resolvida demais pra recomendar a cirurgia. De fato eu nunca tive problemas com a estética de gordinha. Meu medo era em relação a herança genética das COMORBIDADES.
Foi depois que minha mãe faleceu que comecei a pensar mais seriamente na gastroplastia. Mas esse período após a morte foi de muita depressão e mudanças na minha vida e isso adiou os meus planos. Só em 2004, depois que uma amiga operou com sucesso e eu conheci o Dr Fábio Viegas é que eu realmente tomei a iniciativa de marcar uma consulta. Resumindo: demorei mais de um ano pra coneseguir fazer a cirurgia em função dos problemas que a maioria enfrenta com planos de saúde etc.
Operei em 8 de setembro de 2005 pesando mais de 170 quilos (com 1,76 de altura e 35 anos). Minha cirurgia foi muito tranquila, dentro da normalidade. Como todos os pacientes que operam fiquei de um dia pro outro no CTI e mais dois dias no quarto e fui pra casa com meu dreno e meus líquidos de 5 em 5 minutos. Fiz todo o processo direitinho e não tive nenhuma INTERCORRÊNCIA (outra palavrinha que adoram...). No primeiro mês perdi 16 quilos e fui perdendo em média 8 quilos por mês até que em 11 meses já havia emagrecido mais de 70 quilos e me dei por satisfeita. Hoje sou uma mulher normal, ainda gordinha mas saudável e com menos chances de desenvolver as tais COMORBIDADES. Alcancei a minha meta e minhas expectativas com a cirurgia. Hoje, com 4 anos de operada e aos 39 anos de idade parei de fumar, faço exercícios físicos leves regularmente, me alimento bem, como de tudo, com os cuidados necessários e consigo me manter saudável, sem anemias ou grandes deficiências vitamínicas. Já fiz algumas plásticas também.
Não posso dizer que tive problemas com a cirurgia. Os pontos negativos que poderia citar, são:

- o primeiro mes, que é um mes de sacrifício e de transição muito importante. Todo mundo que resolve fazer essa cirurgia deve estar preparado e focado pra se dedicar a esse mês como um renascimento, com paciência e dedicação. Mas é difícil.

- A perda de cabelo, que pra uns é maior, outros menor... assusta. Caiu bastante após o terceiro mês, mais ou menos. Mas com o tempo vai recuperando. Hoje meu cabelo está praticamente normal (pra uma mulher de 39 anos que pinta os cabelos).

- cada um acaba desenvolvendo algum tipo de problema: alguns tem episódios de hipoglicemia, outros ficam hipotensos... eu sempre fui hipotensa, mas consigo controlar a pressão com a aliemntação. Meu maior problema são aos minha unhas. Não consigo me curar de um fungo que insiste em afetar todas as unhas da mão. Já fiz todos os tratamentos e exames possíveis, é um fungo comum e nada resolve. Quando me estresso as unhas quase caem depois vão crescendo. Mas logo começam a aparecer uns risquinhos pretos e elas ficam ocas novamente... paciência.

- E comer devagar, sempre... mesmo pra quem não tem o anel. Evita maiores problemas e dá maior sensação de saciedade. Mas é um saco! quem tem tempo pra isso? quem tem dentes pra isso??? risos...os meus já eram!
Bom, a minha cirurgia foi como dizem, um SUCESSO.
A terceira mulher da história, minha irmã Andréa, sempre foi contra a cirurgia. Aliás, eu não tive muito apoio da minha família, a princípio. Mãe faz falta nessas horas. Mas minha irmã me apoiou e me acompanhou mesmo sendo contra. Ela sabia que eu estava decidida e que era forte. Eu sabia que ia ficar bem e ia fazer tudo certo. Ela acompanhou todo o meu processo.
Mais velha do que eu 4 anos, ela já vinha apresentando as tais COMORBIDADES há tempos. Aos vinte poucos anos já era hipertensa e fazia controle da pressão com remédios. Nunca fumou, mas era obesa. Nunca foi tão gorda quanto eu, sempre pesou em média uns 20 a 30 quilos menos, mas era mais baixa que eu 6 cm.
Enfim, minha irmã, aos 40 anos, 1,70 de altura e cerca de 140 quilos, já estava diabética, era hipertensa e tinha um problema grave e mau diagnosticado no joelho esquerdo que, associado ao peso, gerava uma grande dificuldade de locomoção. Ela começava inclusive a ter alguns problemas na visão relacionados a diabetes. Escondeu isso da família, aliás escondeu a gravidade de todos os seus problemas, mas isso fez com que ela resolvesse operar. Pra superar os seus medos e traumas ela começou terapia na clínica pelo menos um ano antes da cirurgia. Estava muito consciente dos problemas que poderia ter operando e também dos que poderia ter NÃO operando.
Aos 42 anos, no dia 30 de agosto de 2007, ela operou e infelizmente teve uma embolia durante a cirurgia. Embora estabilizada e com a cirurgia terminada com sucesso, e com todos os incansáveis esforços do Dr. Fábio Viegas e sua equipe, ela veio a falecer 6 dias depois em função das sequelas normais de um quadro agudo como esse.
Alguns disseram que ela esperou demais, outros que ela não devia ter operado, outros que ela devia ter se tratado mais.... ela se tratou, se preparou, sabia o que estava por vir e aconteceu. Acontece. O que é bom e o que é ruim, sempre. Mesmo que a gente não queira e não procure por isso. Ela morreria mais dia, menos dia com um derrame, um infarto fulminante ou perdendo as pernas como a minha mãe...
Cada caso é um caso, o meu é esse. Não me arrependo e faria tudo novamente. Sempre soube dos riscos, vivi todos eles na carne e mesmo assim continuaria sendo a minha opção.
Mas não digo a ninguém que faça. Digo: conheça, se informe bastante, avalie se está preparado psicolgicamente e se é o que realmente quer.
Faça o que for melhor por você.

Beijos

Ana Carolina

(anacarolinabbraga@gmail.com se alguém quizer entrar em contato)

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