segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Advogada processa médico do apresentador Faustão após cirurgia.


A advogada Daliana Kristel Gonçalves Camargo, 31, está processando o médico Áureo de Paula (que operou o apresentador Fausto Silva) por problemas de saúde após ter passado por uma gastrectomia vertical com interposição de íleo.

Daliana, que foi submetida à intervenção em 2005, não tinha diabetes e queria apenas perder peso. Ela havia sido operada, pelo mesmo cirurgião, para colocação de um balão, mas não emagreceu.

Segundo seu advogado, Marcelo Di Rezende, o médico disse que, com 100 kg, ela poderia passar por um procedimento que resolveria o problema.

Então, ela engordou, passando de 76 kg para 95 kg. Pagou R$ 20 mil pelo procedimento.

Os problemas surgiram após a cirurgia. Segundo o advogado, ela não conseguia comer e passou a vomitar várias vezes ao dia.

Daliana teve uma úlcera perfurada e uma fístula (orifício) no estômago. Já passou por nove cirurgias e 17 microcirurgias, mas ainda não foi possível fechar a fístula.

Há mais de dois anos ela não pode comer nada. "Ela se alimenta por via enteral [com sonda] ou parenteral [pela veia]", a mesma está aposentada por invalidez.

A técnica cirúrgica de redução do estômago a que o apresentador Fausto Silva se submeteu não está regulamentada nem é reconhecida pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pela SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).

Faustão anunciou em seu programa o método, mas não tem dado entrevistas sobre o assunto sob o argumento de não querer fazer apologia de um procedimento que não sabe se funciona.

Desenvolvida pelo cirurgião goiano Áureo Ludovico de Paula, a gastrectomia vertical com interposição de íleo foi desenhada para curar o diabetes tipo 2 -e não para tratar apenas a obesidade. A técnica é usada no país há cerca de seis anos e pelo menos 450 pacientes já passaram pelo procedimento.

A diferença para a cirurgia convencional está na recolocação do íleo (fim do intestino delgado) entre o duodeno e o jejuno. Ao entrar em contato com o alimento, o íleo começa a produzir GLP1 (hormônio que estimula a produção de insulina). Nos diabéticos tipo 2, a insulina está reduzida no organismo e o íleo produz pouco GLP1 porque a maior parte do alimento já foi absorvida.

Com o reposicionamento de parte do intestino, o alimento entra em contato mais rápido com o íleo, o que pode aumentar a produção do GLP1.

Especialistas criticam a técnica e dizem que não há evidências científicas de sua eficácia.

"O que temos são resultados de um único médico, que está realizando essa cirurgia experimentalmente, sem que nenhum outro cirurgião do mundo a faça. Além disso, é uma técnica que não segue as normas do CFM", diz Thomaz Szegö, presidente da SBCBM.

Segundo o cirurgião Marcos Leão Vilas-Boas, essa técnica acrescenta etapas que, ao final, promovem o mesmo resultado da cirurgia convencional. "No bypass ( Capella ), conseguimos aumentar em 20% a produção do GLP1. O paciente perde peso e melhora o diabetes. Não vale a pena se submeter a uma técnica que não é completamente aceita."

A nova cirurgia não consta da lista de procedimentos aceitos pelo CFM. Segundo o corregedor Pedro Pablo Magalhães Chacel, toda técnica precisa ser autorizada. "Se ela está sendo realizada de maneira experimental, precisa de autorização da Conep [Comissão Nacional de Ética em Pesquisa]. Caso contrário, não pode ser feita."

Gyselle Saddi Tannaus, coordenadora da Conep, diz não há nenhum registro de protocolo de pesquisa envolvendo essa cirurgia no órgão. Por isso, expediu ofícios para os comitês de ética de Goiânia e para o próprio cirurgião pedindo esclarecimentos. O prazo de resposta é de sete dias a partir do recebimento.

"Todo novo procedimento na área de saúde precisa passar pelo crivo do comitê de ética local e pela comissão nacional, em Brasília. Se o procedimento não é experimental, ele [Áureo de Paula] terá que comprovar que é um método consagrado.

Se for experimental, ele terá que apresentar todo o protocolo da pesquisa", afirma.

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